O Jornalismo como construtor da História a partir da Hemeroteca Gabriel Pereira Borges Fortes

De acordo com o dicionário, hemeroteca é o lugar em que ficam as coleções de jornais, revistas, periódicos e obras em séries. É também uma forma de guardar e conservar a história a partir dos relatos de uma época. No Instituto Histórico de Passo Fundo, a Hemeroteca da Coleção Gabriel Pereira Borges Fortes abriga periódicos que remontam aos primórdios da imprensa brasileira, como a Gazeta do Rio, impressa em 1822, chegando até a década de 1990, abrangendo diferentes localidades brasileiras. Mas ela também preserva periódicos do período da Revolução Farroupilha, que foi a mais longa revolta do período Imperial Brasileiro, durando de 1835 a 1845. Um acervo rico em história, que se tornou um campo atrativo para a pesquisa.

A partir desse acervo, desenvolvemos, há quase um ano, o projeto de pesquisa “História da Imprensa no RS: múltiplas possibilidades a partir da Hemeroteca Gabriel Pereira Borges Fortes”. O projeto voltou-se aos jornais publicados no Rio Grande do Sul, cujo maior volume é dos periódicos que foram publicados no contexto da Revolução Farroupilha. Na hemeroteca existem 24 títulos de jornais publicados entre 1828 e 1849.

Durante os encontros de pesquisa, realizamos um estudo minucioso em cada um dos títulos existentes no acervo, visando produzir um catálogo, para auxiliar a população durante suas buscas e entender mais sobre o jornalismo e a história da época da Revolução Farroupilha. Durante esse processo, coletamos informações detalhadas sobre cada periódico, como o período de circulação, localidade, editores, formato, periodicidade, histórico e o total de exemplares ainda existentes e disponíveis. A partir disso, são produzidas fichas individuais com as informações levantadas. Entre uma ficha e outra, descobrimos histórias curiosas e ricas em informações, e assim mergulhamos na história do nosso país.

Desta forma, compreendemos o que significa o jornalismo como “ciência social aplicada”. Os jornalistas, bem como suas matérias publicadas em jornais – seja agora ou há 200 anos – são responsáveis por analisar e compreender a sociedade em que estão inseridos e, a partir disso, entender por que as coisas são como são. Como disse Tobias Peucer – o progenitor da Teoria do Jornalismo, em 1690 – jornalismo e história são sinônimos que andam lado a lado, “fazer jornalismo” é, essencialmente, construir a história da vida diária.

Essa responsabilidade social compartilhada pelas duas áreas nos permite perceber que, apesar de áreas de atuação um tanto quanto distantes, as raízes do jornalismo e da história são comuns. Os profissionais da história utilizam de informações de veículos jornalísticos como fonte de pesquisa para compreender e explicar uma certa época da sociedade, e é o profissional do jornalismo responsável por esse retrato.

Com isso, vemos que o jornalismo não pauta somente as discussões cotidianas de cada período, mas também quais fatos históricos vão ser lembrados pelas gerações futuras. É debruçada sobre eles que conseguimos compreender os princípios, as necessidades e os desejos de uma sociedade que viveu aqui séculos antes de nós. Mais que isso, conseguimos, a partir deles, entender como e porque a sociedade em que vivemos se estruturou da forma que a conhecemos hoje. Estudar a história é ir além da oportunidade de conhecer o passado, é conseguir entender as raízes que nos trouxeram a ser quem somos hoje. Esse é o principal diferencial que essa pesquisa traz à nossa carreira: entender os impactos das nossas raízes na formação de quem somos hoje e o nosso papel na formação da história, afinal, estamos nos preparando para ser narradores da vida e, portanto, logo também iremos nos tornar parte daqueles que ajudam a escrever a história.

Rolar para cima